Excelente reflexão de Gustavo Gitti, que discorre
inteligentemente sobre a dinâmica corrente dos relacionamentos humanos em
geral. Percebe-se o profundo teor filosófico oriental que emana de sua
argumentação. Basicamente o autor aborda o valor da presença, da postura de
entrega e de disponibilidade, tão rara na atualidade. Sobre tema semelhante, já
escrevi o texto O Segredo do Passeador de Humanos.
Vale a pena refletir sobre suas ponderações:
Quando você for para o trabalho, para a faculdade,
para uma balada, não vá com uma postura de buscar algo, conseguir algo, sugar
algo do local ou das pessoas.
Vá para oferecer, vá para gentilmente entregar às
pessoas as qualidades de sua simples presença.
Ofereça qualquer coisa. Um olhar profundo já é muito
hoje em dia. Vá para os lugares e apenas treine olhar tudo com um olhar de
abismo. Muitas pessoas precisam só disso: serem olhadas, contempladas suave e
lentamente, reconhecidas em sua manifestação mais sutil, tocadas de alguma
forma e conectadas com um outro que as transcende e reacende o mistério que as
faz viver.
No momento em que se coloca em uma posição
mendicante, você adentra um mundo de carência, sente-se incapaz de oferecer
algo aos outros e termina com um olhar que suga e enfraquece a energia de
qualquer um ao seu redor. Ao final do dia, você continuará insatisfeito e
certamente terá construído relações patológicas com os seres, baseadas em sua
carência.
Por outro lado, se adotar uma postura expansiva e
radicalmente aberta, oferecendo sua existência ao deleite dos outros, você
age reconhecendo que não tem nada a perder. Não há medo nem hesitação em seu
olhar. Sem esperar ou exigir nada dos outros, você age desimpedidamente, em uma
dança sutil em meio às situações. Qualquer solidez ou bloqueio é atravessada
por sua leveza e transparência. Qualquer obstrução é liberada pela presença da
sua espontaneidade. Você apenas sorri e faz todos sorrirem, ou ainda: você cria
o espaço para que todos possam sorrir.
Seu olhar sequer vem de seus olhos. É não-local,
surge em qualquer olho, surge do espaço entre os seres, dos rizomas que os
transpassam. Você age sem estratégias e cria um raro ambiente no qual cada
pessoa se sente livre para igualmente abandonar suas estratégias e apenas ser. Isso
é um alívio para qualquer um.
Quando nos apresentamos como mendigos, quando
pedimos por algo, tudo nos é insuficiente, ralo, pouco. No fundo, estamos
fechados e por isso acabamos não vendo o que há, sem perceber os tesouros de
cada lugar, de cada ser, de cada evento. É o coração contraído que suplica, que
pede, que suga.
Quando vamos sem nada pedir, estamos abertos. Tudo
nos arrebata. Tudo já é demais e nos enriquece imediatamente. A qualidade
viva das coisas faz nossa visão transbordar de luminosidade.
Ao final do dia, brotará em você uma alegria sem
causas, não condicionada. Não há frustração ou insatisfação. Você apenas deu o
seu melhor e sente-se em paz. Não interessa se alguém notou, se recebeu elogios
ou se você foi completamente ignorado. Você ofereceu toda a sua
profundidade. Não há presente maior que um homem possa dar.
fonte: site http://nao2nao1.com.br/
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