domingo, 27 de junho de 2021

Só se pode chegar em casa sozinho - Osho

Na sociedade, existe uma profunda expectativa de que você se comporte exatamente como todos os demais. No momento em que se comporta de forma um pouco diferente, você passa a ser um sujeito estranho, e as pessoas têm muito medo de estranhos.

É por isso que, em qualquer lugar, se há duas pessoas no ônibus, no trem ou paradas no ponto de ônibus, elas não podem ficar sentadas em silêncio — porque em silêncio elas são dois estranhos. Elas começam imediatamente a se apresentar uma a outra — “Quem é você? Para onde está indo? O que você faz, qual é a sua profissão?” Mais um pouco...e elas sossegam; você é outro ser humano sendo exatamente como eles.

As pessoas sempre querem participar de um grupo ao qual se ajustem. No instante em que você se comporta de um jeito um pouco diferente, o grupo todo fica desconfiado; alguma coisa está errada.

Eles conhecem você, podem ver a mudança. Eles o conheciam quando você nunca se aceitava, e agora eles vêem de repente que você se aceita...

Nesta sociedade, ninguém aceita a si mesmo. Todo mundo se condena. Esse é o estilo de vida da sociedade: condenar-se. E, se você não está se condenando, se está se aceitando do jeito que é, você tem que se afastar da sociedade.
 
E a sociedade não tolera ninguém que saiu do rebanho, porque ela vive de números; é uma política de números. Quando há muitos números, as pessoas se sentem bem. Números grandes fazem com que as pessoas sintam que tem de estar certas - elas não podem estar erradas, milhões de pessoas estão com elas. E, quando ficam sozinhas, grandes dúvidas começam a vir à tona: Ninguém está comigo. O que garante que estou certo?

É por isso que eu digo que, neste mundo, ser um indivíduo é o maior sinal de coragem.

Para ser um indivíduo, é preciso o mais destemido dos treinamentos: “Não importa que o mundo inteiro esteja contra mim. O que importa é que a minha experiência é válida. Eu não me importo com os números, com quantas pessoas estão comigo. Eu me importo com a validade da minha experiência — se estou simplesmente repetindo as palavras de outra pessoa, como um papagaio, ou se a fonte das minhas afirmações é a minha própria experiência. Se é a minha própria experiência, se isso é parte do meu sangue, dos meus ossos, do meu âmago, então o mundo inteiro pode pensar de outro jeito; ainda assim, eu estou certo e eles estão errados. Não importa, não preciso da aprovação deles para sentir que estou certo. Só aqueles que defendem as opiniões de outras pessoas precisam do apoio dos outros.”

Mas é assim que a sociedade humana tem sido até agora. É assim que ela mantém você no rebanho. Se os outros estão tristes, você tem que ficar triste; se sofrem, você tem que sofrer. O que quer que eles sejam, você tem que ser também. Não se permitem diferenças, porque as diferenças acabam levando para o indivíduo, para o único, e a sociedade tem muito medo do indivíduo e da unicidade. Isso significa que alguém ficou independente do grupo, que essa pessoa não dá a mínima para o grupo. Seus deuses, seus templos, seus padres, suas escrituras, tudo ficou sem sentido para ela.

Agora ela tem seu próprio ser e seu próprio jeito, seu próprio estilo — de viver, morrer, celebrar, cantar, dançar. Ela chegou em casa.

E ninguém pode chegar em casa junto com a multidão. Só se pode chegar em casa sozinho.


Osho, em "Coragem: O Prazer de Viver Perigosamente"
Publicado originalmente no blog palavras de Osho
para mais textos do mesmo autor, sugiro o link http://www.osho.com/pt

Por que o mundo está na ignorância?

Por que o mundo está na ignorância? 


 


Tente responder a essa pergunta sinceramente antes de ver a resposta de Sri Ramana Maharshi (1879-1950), o grande sábio indiano, que segue abaixo.

Porque o mundo está em ignorância?

 

Eis a resposta de Sri Ramana Maharshi:

Pergunta: Porque o mundo está em ignorância?

Sri Ramana Maharshi: Deixe o mundo tomar conta de si mesmo.
Se você é o corpo, então o mundo grosseiro aparece aí.
Se você é o espírito, tudo é apenas espírito.

Procure o ego, e ele desaparece. Se você investiga, a ignorância será descoberta como não-existente. É a mente que sente miséria e escuridão.

Veja o Ser.

Sri Ramana Maharshi, “Abide As The Self”.

 

 

Há tantas coisas nessa resposta curta. Mas o quanto conseguimos ver verdadeiramente de nós mesmos parece ser a chave. “Se você é o corpo, então o mundo grosseiro aparece aí. Se é o espírito, tudo é apenas espírito”. Rearranjando as frases, podemos tentar uma emenda nova: se você é a mente, então sente miséria e escuridão.

Está implícito que não adianta saber porque o mundo está em ignorância. Manter a pergunta lá fora (o mundo, as outras pessoas, o vizinho, o chefe, etc) mantém o “eu” que acreditamos ser intacto, inquestionado, num desvio do problema fundamental. Quem eu sou (que percebe essa ignorância no mundo) é realmente quem eu sou? E que “conhecimento” verdadeiro esse eu pode ter para sustentar isso?

 

Deixe o mundo tomar conta de si mesmo“.

Ele parece dizer: você não sabe nem o que se sucede dentro das crenças que tem de você mesmo, como pode querer saber da ignorância do mundo?

Isso lembra uma outra resposta que Sri Ramana deu a alguém que lhe perguntou sobre o mundo nesses tempos críticos.  

Ele respondeu: “Porque você deveria se preocupar com o futuro? Você nem conhece apropriadamente o presente. Tome conta do presente e o futuro tomará conta de si mesmo.”

Para logo depois emendar: “Como você é, assim também é o mundo“.

Se quisermos usar nossas percepções sobre o mundo para algum tipo de ajuda nessa investigação, talvez uma utilidade seja se perguntar como o mundo reflete quem achamos que somos.  

Qual é a relação que existe entre o-mundo-que-eu-vejo (percebo-entendo-vivo) e o-que-acredito-que-sou?  

Se o mundo da forma que vejo revela quem-eu-acho-que-sou, quem eu acho que eu sou? E vice-versa (como o-que-eu-acho-que-eu-sou molda minha visão de mundo?). 

E depois que encontramos esse quem-eu-acho-que-eu-sou, se formos investigar profundamente, ele continua lá (aqui)?

Este post foi escrito por

Sobre o autor Psicoterapeuta Gestalt e jornalista, Nando Pereira é autor do livro "Para Abraçar a Prática" (240pp, 2019) e coordenador da Mentoria de Meditação, "30 dias para transformar sua prática".

quinta-feira, 24 de junho de 2021

O Jogo de Xadrez e sua profunda eloquência sobre a vida


O xadrez é um jogo antiquíssimo, todos sabem.
Diz uma das lendas que foi inventado há milênios na Índia, na época de um tal rei Cheram... quem sabe?

Um de seus aspectos mais fascinantes está na grande quantidade de símbolos e metáforas que podemos extrair, a partir de uma dada visão de mundo e de uma reflexão. 
 
O que podem simbolizar as peças ou o próprio jogo de xadrez em si mesmo?
 

Xadrez: a profunda eloquência de um jogo

 Uma das metáforas mais conhecidas é a famosa analogia com o 'Jogo da Vida': a vida seria aquilo que acontece no "tabuleiro", sendo cada uma de nossas atitudes, uma "jogada", um "lance". Assim, nossas jogadas inteligentes e oportunas, tem como resultado o sucesso, a saúde e a felicidade. Se as jogadas forem mal pensadas ou inoportunas, o resultado será o fracasso, a enfermidade e o sofrimento. 

Mas, o que garante a vitória no jogo da vida? Basta conhecer as "regras do jogo"?  

"Sabemos" o que devemos ou podemos fazer... até decoramos as regras, estudamos manuais, anotamos e colecionamos conselhos, lemos livros, não poucos... pronto! agora estamos prontos prá começar! Certo?

Parece que não. No xadrez ocorre o mesmo: estudamos, ensaiamos na cabeça, imaginando possíveis melhores lances, tentando antever movimentos dos demais jogadores... 
Mas na hora do jogo de verdade, na vida prática do dia a dia, conforme peças brancas e negras se movem, vamos nos perdendo e nos confundindo, esquecendo tantos conselhos e, mesmo sabendo as regras, lá estamos ansiosos, tensos, agitados...
É possível reorganizar as posições de suas peças, reforçar defesas, repensar ataques, revisar estratégias etc...

mas qual é mesmo o objetivo do jogo?
Você já pensou a respeito? 
No xadrez é fácil saber... mas qual o objetivo de sua vida?
Qual o sentido de viver? Por que é mesmo que estamos "jogando" o jogo da vida?

Seria o objetivo principal do jogo, simplesmente acumular/capturar o maior número de peças que aparecerem pelo caminho? 

Parece que não... "acumular" nem sempre é uma boa jogada... há muita ilusão de ótica, armadilhas. Jogadores medianos já sabem que quase nunca isso funciona bem. Não basta acumular peças para vencer o jogo. Aquilo que parece um ganho fácil, pode mostrar-se a causa da derrota, mais rápido do que se supunha.

Então, o jogador maduro geralmente é mais prudente e sábio... não está primariamente ocupado em ganhos imediatos... ele sabe que o principal não é 'acumular', pois cada movimento tem seu preço, sua consequência. Principalmente, ele não desperdiça movimentos!

O iniciante tende a pensar que suas peças sempre estão ali para lhe ajudar e, por outro lado, que as peças da cor oposta estão ali para lhe atrapalhar. Mas o jogador sábio sabe que tudo é relativo. Uma peça, independente da sua cor, pode tanto ajudar como atrapalhar... peças que pensávamos nos travar o avanço, algumas vezes se revelam excelentes escudos contra problemas maiores.
Então, o sábio não pensa em termos simplistas e meramente dualistas: "peças boas" e "peças más"... Na verdade, lances muito bons em certo contexto, podem ser desastrosos em outros, e vice-versa.   

No xadrez, como na vida, bem e mal, bom e ruim, não são absolutos. Não é bom prejulgar nenhuma peça ou situação de jogo...
Tudo pode mudar, e tudo muda, rápido ou não. No jogo, como na vida, nenhuma condição é permanente. Ora você trabalha, ora colhe frutos, ora frutos doces, ora amargos... isso não tem fim!

No jogo de xadrez, como no jogo na vida, demorar demais para aprender o básico, trará sofrimento extra e talvez desnecessário. Há regras e são suas aliadas, quando você as compreende e as respeita na medida certa, mas se tornam suas inimigas, quando são ignoradas, subestimadas ou superestimadas. Todo extremo é problemático. Só o equilíbrio é saudável.


Mas o verdadeiro sábio não é aquele que só vê a vitória como opção. No jogo, como na vida, o importante é desfrutar da partida!
Viver (ou jogar) como se estivesse numa luta trágica para "vencer a morte, custe o que custar" não lhe trará conforto nem felicidade alguma! Ao contrário! Tal jogador será consumido pela ansiedade, pela irritação e pelo desapontamento, até resultar enfermo, do corpo e da mente!

A morte ou o fracasso vai chegar, mais cedo ou mais tarde... e para todos. Mesmo para os "vencedores". 
Sobretudo, o sábio se lembra que, no final de tudo, terminada a partida, "todas as peças voltam para a sua caixa". 
E tudo aquilo que se acumulou, todas as peças e posições conquistadas... tudo, tudo, volta a zero... o jogo terminou e o tabuleiro é guardado. Fim de jogo!
Então, não faça drama! Prá quê? Não converta um erro seu ou do seu oponente, em motivo de vanglória ou de vergonha ... Estamos todos jogando e aprendendo. Então desfrute! 

...Mas sempre ciente de que tudo irá se desvanecer, mais lenta ou rapidamente do que você esperava! Não tente "congelar" o jogo, paralisar a posição das peças! O jogo é, por natureza, dinâmico, repleto de movimento e fluidez... só o sofrimento aguarda aos que ignoram essa tão simples e notória verdade da vida, essa verdade do jogo.
Não perca o prazer do jogo! não perca o prazer da vida, por causa de eventuais erros e acertos! 

Mas há, por fim, uma metáfora ainda muito mais profunda, mais esotérica e mais desafiadora para refletirmos com imparcialidade e sem paixão:

No "tabuleiro do jogo da vida", finalmente nos damos conta de que nós somos as peças... não somos o "brilhante jogador", nem o "dono do tabuleiro"!

O que se constata durante o jogo? O "jogador", o "dono do tabuleiro e das peças", joga como quer... ele não precisa consultar "suas peças" sobre suas escolhas de movimento... mas não se ofenda, ok?! não leve para o lado pessoal... não há nada "pessoal" no modo como o jogador lida com as peças no tabuleiro.


Veja e entenda: Nenhuma peça, seja o "rei", seja o "peão", compreende a "mente" ou a estratégia do jogador, nem tampouco tem qualquer visão ampla do cenário total do tabuleiro... ela (cada peça) ignora profundamente, não faz a mais vaga ideia do que aconteceu antes do jogo começar, do que está acontecendo durante o jogo ou do que vai acontecer depois que a partida terminar...

As peças (que somos cada um de nós), definitivamente, não compreendem a inteligência dos movimentos que vislumbra sempre e tão somente a partir de seu limitado ponto de vista...

Por que fingir que sabemos alguma coisa sobre alguma coisa da vida?

Decididamente, num jogo de xadrez, não são as peças que decidem seu próprio destino! Isso não impede que, em uma fábula imaginada por algum bom escritor, algumas peças se achem "donas de si mesmas", pensando que controlam os acontecimentos a sua volta, imaginando que decidem quando vão se mover para lá ou para cá, ou quando vão sair do tabuleiro... quanta ilusão!

A verdade é que não decidimos nada! 

Nossas escolhas não são "nossas" escolhas. Temos, isso sim, a impressão de que decidimos e escolhemos. O nosso pensamento, dentro de um paradigma, nos convence disso! E nós acreditamos.

Veja só: Surgimos neste mundo e, tal logo nascemos, somos programados pelo próprio DNA, desde a ponta do pé até o último fio de cabelo... e se já isso não bastasse, temos ainda os condicionamentos promovidos pelo meio que nos cerca (ambiente geográfico, cultura, época, contexto social...).

Então, se a vida e o corpo que temos é resultado de uma programação e de um condicionamento que nos foi dado seja pela natureza, seja pela cultura, então de qual liberdade de escolha estamos falando?

Então "não devo mais fazer escolhas"?  Claro que pode! 

Escolha! Mas escolha consciente... escolha consciente de qual é o seu papel no "jogo da vida". Não escolha iludido, sobre qualquer controle que você suponha ter sobre os outros, sobre o destino do mundo. Não se iluda e não sofra desnecessariamente.

Perceber essa questão pode lhe parecer muito limitador e frustrante no início, mas espere um pouco e reflita melhor:

No início, achamos que sabemos tantas coisas...

Depois, notamos que não é o caso: de quê nos adianta tantos saberes na cabeça, tanta "riqueza espiritual", se não sabemos quem somos ou de onde viemos objetivamente? 

Objetivamente, nada sabemos sobre a "caixa das peças" de onde saímos, ou sobre "quem" ou sobre porquê fomos moldados como "peões", ou como "torres", ou "cavalos" ou "bispos"... nossa origem, tal como o destino, é completo mistério...  Só o que temos, convenhamos, são punhados de teorias aqui e crenças acolá, especulações contraditórias sem fim...

Note bem: mesmo com tanta ciência e tecnologia, nada sabemos sobre os movimentos da vida... e quase nada sobre tudo que acontece ao nosso redor agora mesmo... nossos sentidos, limitados, pouco nos dizem sobre o que nos cerca verdadeiramente, ou sobre tudo que está acontecendo neste exato momento, aqui e agora... 

Menos ainda sabemos sobre o que aconteceu remotamente ou sobre o que acontecerá daqui a três horas ou três dias...

Enfim, sobre a origem de pensamentos ou dos mundos... só sonhamos que sabemos... o fato é qualquer micróbio ou fenômeno atmosférico tem mais poder sobre nós e sobre o destino do planeta do que todas as nossas ciências atuando juntas.

Que surpresa quando nos deparamos com essa realidade! Que benção percebê-la! que libertação! 

Quando descobrimos que não controlamos a vida (ou a morte), que não controlamos os outros, que não controlamos nossos próprios pensamentos ou emoções (frutos de cérebros complexos e, por vezes, confusos)... quando nos damos conta disso tudo, finalmente podemos relaxar e viver, deixando toda a ansiedade e temor de lado!

A partir de então, começamos a nos aperceber daquilo que é a realidade que permeia tudo, o imutável por trás de todas as mutações... por trás do destino e dos cenários de todas as coisas aparentes...

A partir dessa compreensão, nenhum "peão" ou "cavalo" precisa mais provar nada para ninguém, não precisa mais se debater para tornar-se o que não é, mas finalmente pode se concentrar em ser aquilo que em essência já é... ninguém mais precisa se comparar ou competir alucinadamente, achando que está "fazendo" isto ou aquilo...podemos todos, peões, cavalos, bispos, torres, damas e reis...  finalmente aquietar e descansar naquilo que somos verdadeiramente!

Não é mais necessário sofrer e se debater inutilmente ante o inevitável! Você descansa, e respira e simplesmente desfruta.

Compreenda o que é "ser uma peça", peão ou torre, rei ou dama... 

Qual peça realmente vale mais ou vale menos? 

Qual peça se aborrece mais ou menos durante sua existência? 

Qual peça é mais afortunada, mais rica ou mais sábia?

Dê-se conta do sonho, e do sonhador!!  

Observe o pensamento... e o pensador do pensamento. Veja como vem e vai... como surge e desaparece... 

Dê-se conta como, assim que o sonhador acorda de manhã em sua cama, "o jogo acaba"... o sonho se desvanece e, só mais um pouco, sequer como lembrança ele resta... desaparece o sonho, assim que desaparece o sonhador... desaparece o sonhador assim que ele acorda, simples assim. E com o sonho, assim também se vão o sonhador com suas posses imaginadas, seus cargos e encargos, suas alegrias e suas aflições oníricas... todas.

Tudo real sim, para o sonhador, e para ninguém mais... tudo real para os sonhadores que compartilham o mesmo sonho ou pesadelo.

Nossos títulos, nossas posses, nosso nome, nossos saberes, nossa identidade, nosso ego tão orgulhoso ou tão vergonhoso de si mesmo (tanto faz) e até nosso corpo com sua história: nada além de formas mentais que surgem e desvanecem como nuvens do céu. Nada mais, nada menos!

Só o que resta no fim das contas, é o que sempre esteve aí: Aquele que é, que sempre foi e sempre será!

Os escritos perdidos de Wu Hsin

 
Mais uma excelente produção do canal "Corvo Seco", desta vez abordando os fragmentos do ensinamento de Wu Hsin, os quais lembram bastante os profundos preceitos filosóficos orientais budistas e advaitas. 
 
Ótima dica para os praticantes da meditação!  
 
Assista ao vídeo:



 Conheça alguns trechos do livro: “The Lost Writings", do mestre Wu Hsin

 

Acredita-se que Wu Hsin viveu entre 403 - 221 a.C., na China, cem anos depois de Confúcio.

Seu nome significa literalmente 'não-mente', e quase não há vestígios sobre ele. 

Segundo Roy Melvin (organizador do livro), Wu Hsin foi influenciado pelas escolas de Confúcio, Mozi e pelo Taoísmo, e ajudou a criar as fundações do que seria mais tarde o Zen Budismo na China e no Japão.

“Seus escritos estão cheios de paradoxos, que fazem com que a mente desacelere e, às vezes, até mesmo pare. 

Lendo Wu Hsin, é preciso refletir. No entanto, não é uma reflexão ativa, mas passiva, da mesma forma que alguém põe algo no forno e deixa assar um pouco”. Roy Melvin. 

 

“Não se apegue a nenhum método, caminho ou professor. A corda que te resgata do rio pode ser usada para te enforcar”. Wu Hsin. 

“Muitos dias de silêncio são necessários para se recuperar da futilidade das palavras”. Wu Hsin.

 “Ninguém pode ter o suficiente daquilo que não satisfaz”. Wu Hsin. 

“A quietude não é a ausência de pensamento. A quietude é anterior a ambos. A ausência e a presença. Ela não pode ser criada, mas pode ser encontrada”. Wu Hsin.

terça-feira, 22 de junho de 2021

Revolução: que(m) precisa mudar?

Proponho a revolução!


de Flávio Siqueira

Você já sentiu que as peças que estamos usando para construir o quebra cabeças de nossas vidas não se encaixam? Basta o mínimo de atenção para ver que tem muita coisa errada.
Por exemplo, há poucos dias uma entidade internacional de apoio a programas de desenvolvimento chamada OXFAM divulgou um relatório desanimador. Apesar do que os governos anunciam, a concentração de riquezas no mundo está aumentando.
Segundo a entidade, em pouco tempo a riqueza acumulada por 1% da população será superior a tudo o que os 99% restantes possuem. O relatório mostra que, apesar de produzirmos alimentos suficientes para suprir à necessidade três vezes superior a demanda de habitantes do nosso planeta, uma em cada nove pessoas no mundo ainda passa fome. É muita coisa.
Mas os números são chatos e podem ser contra argumentados como fazem com habilidade os políticos. Deixando-os de lado, preste atenção em como a maioria de nós conduz a própria vida. Olhamos com naturalidade um sistema que chama a casa própria de “sonho”. Não tenho conhecimento de nenhum animal que precisa de tanto esforço para ter um canto na vida. Somente o bicho humano é capaz de criar um “mercado imobiliário” tão voraz, como especialmente o das grandes capitais.
Nos acostumamos com a desigualdade e a justificamos. Para muitos de nós, os milhões de homens e mulheres apertados em um ônibus abafado e lotado é parte da paisagem natural, assim como as famílias que moram na rua, como os cenários de miséria contrastando com ambientes de luxo. A falta de educação que inibe o pensamento crítico, que nos transforma em bonecos do consumo, é aceitável, aderimos ao “cada um por si” sem percebermos que esse olhar fragmentado é justamente o que viabiliza tamanha desigualdade.
Não estou falando sobre socialismo, que não deu certo onde foi testado. O capitalismo também não. Apesar da prosperidade ostentada por poucos, não posso me conformar com um sistema em que 1% da população concentra mais riquezas do que todo o resto. Isso não pode ser encarado como algo que deu certo.
Enquanto nos distraímos tentando nos aproximar dos exemplos propagandísticos de sucesso, fechamos os olhos para a grande maioria que jamais terá o mínimo.
Há os que não se incomodam com o ritmo alucinante de trabalho que rouba um pai da família, a mãe dos filhos, que congestiona as cidades, que separa as pessoas, que provoca doenças emocionais. Esses encaram o fato de que a educação, a fé e a política se transformaram em “mercados” disputando nichos com avidez, em muitos casos sem nenhuma ética, como um fenômeno absolutamente aceitável. Tudo ganhou preço, tudo virou mercado e perdeu o valor.
Talvez nossa maior dificuldade em virar o jogo seja a crença de que nada podemos fazer. Esse mesmo sistema nos convence de que somos impotentes, de que o preço do progresso é a desigualdade e tudo o que nos cabe é lutar, lutar muito, para quem sabe um dia encontrarmos lugar nos vagões da frente caso não queiramos a mesma morte dos que ficaram para trás.
Fomos convencidos de que não há escolhas, ou aderimos, ou morreremos com nossas “ideologias utópicas”.
Não estou aqui para propor novos sistemas. Não acredito que simplesmente mudar um “ismo” por outro seja suficiente para que haja justiça. Pessoalmente só vejo um caminho: O movimento individual que promove revoluções em seus micro sistemas.
Em cada mente que desperta há a implosão de um sistema. Quem vê sai da bolha e passa a se relacionar com ela a partir de outra perspectiva. Não estou dizendo que esse indivíduo necessariamente impactará o todo, mas o que é o todo se não a somatória dos indivíduos?  Se cada um de nós se propuser a repensar o estilo de vida, incluindo nossas prioridades, nossos sonhos, nossos valores, seremos agentes subversivos onde quer que estejamos. E tanto faz se a maioria não se importar. Eu me importo e viverei conforme minha consciência.
Acredito que o maior mal dos nossos sistemas, sejam eles quais forem, é a inibição do pensamento. Melhor sentir do que pensar, melhor correr do que parar e enxergar, melhor entrar no fluxo frenético da maioria imbecilizada, do que questionar sobre o que estamos fazendo com nossa própria vida. O resultado disso é a gigantesca desigualdade e nossa incrível passividade zumbificada diante dela.
Proponho a revolução! Não as que usam armas, nem as panfletarias com seus discursos cheios de amargura, proponho que nossa insatisfação seja alavanca de um reposicionamento de vida. Proponho que deixemos de esperar tanto dos outros, dos governos, dos empregadores, do Batman, do Obama ou de Deus e façamos o que dá em nossos mundinhos. Há muito a fazer em seu mundo!
A revolução que proponho se concretiza sempre que um indivíduo inverte a lógica do sistema em si, e reflete naturalmente o novo olhar para o todo. Se nossa escolha é viver dentro do sistema não precisamos permitir que o sistema viva em nós.
Até onde isso pode nos levar não faço a mínima ideia, mas sempre que vejo o mundo como está, o que me consola é a esperança de que pequenos movimentos subversivos são possíveis; mentes que não viam agora veem, gente resignada agora pensa, mundos encurralados por tanta pressão encontram um caminho que antes de tudo seja reflexo de outro olhar.
Não é o mundo que precisa mudar, é o nosso olhar. Quando isso acontece, o mundo, sem escolha, simplesmente acompanha. Se isso deve começar por alguém, por que não pode ser com a gente?

domingo, 20 de junho de 2021

Ramesh Balsekar - O Livre-arbítrio é uma Ilusão

 Ramesh Balsekar - O Livre-arbítrio é uma Ilusão

 

O que você entende por livre-arbítrio? 

Você é tão livre como imagina ser? 

Você de fato está no controle dos acontecimentos de sua vida? Você escolhe como?

 

  

 

 

Vale a pena assistir a este excelente vídeo contendo algumas citações do livro “Experiencing The Teaching” de Ramesh Balsekar, mestre da Filosofia Advaita.

Ramesh Balsekar - O Livre-arbítrio é uma Ilusão

 Citações e trechos do livro “Experiencing The Teaching” de Ramesh Balsekar. 

Ramesh S. Balsekar (1917 - 2009) foi discípulo de Nisargadatta Maharaj. Desde a infância, Balsekar foi atraído pelo Advaita, particularmente os ensinamentos de Ramana Maharshi. Ele escreveu mais de 20 livros, foi presidente do Banco da Índia e recebia hóspedes diariamente em sua casa em Mumbai até pouco antes de sua morte. 

Balsekar ensinava a partir da tradição do não-dualismo Advaita Vedanta. 

Seu ensino começa com a ideia de uma Fonte definitiva, Brahman, da qual surge a criação. Uma vez que a criação surgiu, o mundo e a vida operam mecanicamente de acordo com as leis divinas e naturais. Tudo o que acontece é causado por esta fonte, e a identidade real desta fonte é pura Consciência, que é incapaz de escolher ou fazer. 

Portanto, o livre-arbítrio é na verdade uma ilusão. Essa falsa identidade que gira em torno da ideia de que "Eu sou o corpo" ou "Eu sou o executor" impede a pessoa de ver sua identidade real, que é a Consciência livre. 

“Entenda que nada acontece a menos que seja a vontade de Deus, e faça o que quiser. O que pode ser mais simples do que isso?” (Ramesh Balsekar). 

 

“É justamente pela razão que a verdade é simples, básica, elementar e totalmente óbvia, que ela é completamente esquecida”. (Ramesh Balsekar). 

 

 “O verdadeiro amor de Deus significa render-se a ele, sem querer nada, nem mesmo a salvação”. (Ramesh Balsekar).