quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

quem pensas que tu és?


“Torna-te o que és”
(Nietzsche - séc XIX)


O que você acha de você mesmo é uma abstração subjetiva: tal conceito se construiu lentamente ao longo de sua existência social, cultural...
Cada um tem sua própria auto-imagem, mais ou menos condicionada ao contexto sócio-histórico (lugar, circunstâncias, época etc). 


Mas o que você é, de fato, quase sempre permanece incógnito, até para você mesmo


Nossa cultura e sociedade não têm nenhum interesse especial em que saibamos quem realmente somos. Então, é simplesmente muito comum que tenhamos uma ideia relativamente equivocada sobre nós mesmos. 
Se alguém de repente nos perguntasse "quem somos nós" numa entrevista de emprego ou em uma reunião com pessoas recém-conhecidas, que diríamos? 
Não seria surpresa se começássemos por dizer nosso nome ou sobrenome, nossa profissão, talvez nossa formação acadêmica ou estado civil... e se nosso interlocutor ainda nos olhasse insatisfeito, provavelmente acrescentaríamos nossos gostos e desgostos artísticos e culinários, nossos hobbies e preferências, em diversas áreas... 
mas, no fundo, de verdade, NADA disso é o que SOMOS! 

O real ser de cada um em geral nada tem a ver com nossa própria opinião racionalizada... Podemos ir além e afirmar, sem medo de errar, que nosso ser geralmente pouca relação tem com o papel social que representamos nos distintos cenários do dia a dia... 
os sepulcros caiados são belos e alvos por fora, cheios de podridão lá dentro e lá no fundo...
por fora e por vezes, "bela viola", mas por dentro...
de fato, nossa imaginação mal daria conta de enumerar ou elucidar algo a respeito de nossos inúmeros eus e contradições íntimas... nossa multiplicidade interna, subconsciente, infraconsciente ou inconsciente permanece para nós, uma incógnita dantesca, um enigma chinês de cem mil peças.

conclusão: por mais estranho ou desconcertante que possa soar, somos uns estranhos para nós mesmos! e o que é pior: dormimos com o inimigo!! todos os dias!! e nem sequer nos damos conta... 

quase que absolutamente desconhecidos de nós mesmos, muito provavelmente não nos reconheceríamos se nos víssemos num "espelho especial", de tipo psicológico. 
Semelhante instrumento poderia nos causar alegria ou talvez asco ou talvez horror, mas certamente espanto!  
 

Mas isso não é tudo! 
boa parte da imagem que temos de nós mesmos não brotou de nossas constatações pessoais ou íntimas.. muito de nossa 'opinião própria' sobre o que somos advém dos outros. De qualquer modo, tal ideia ou opinião não costuma ser precisa, mas deverá ser suficientemente vaga e superficial para que logo possa ser esquecida em algum corredor do labirinto de nossa própria mente...

Na concepção existencialista, o outro é o parâmetro fundamental para o nosso autoconceito. Nele está contido o que dizem e o que penso e sinto sobre o que dizem... 

Este conceito é ímpar e paradoxal, pois apesar de ser construído com os retalhos do que os outros pensam de nós mesmos, jamais pode ser plenamente compartilhado... 
Somos um enigma para nós mesmos e um quebra-cabeças para os outros,ora fascinantes, ora entediantes...  
O que importa entender é que todo o trabalho de uma vida consiste em "autoconhecimento".
Tudo o mais será inútil, supérfluo e desperdício, se não conduz a algum nível de autodescoberta. Nada é mais relevante ou urgente: desvendar quem somos, de onde viemos e para onde vamos!

De que vale ganhar o mundo se perder de vista sua alma, questiona o evangelho cristão...

A mais importante conquista é possuir a si mesmo, assevera a ética budista!

A vida sem investigação não vale a pena ser vivida, sentencia a filosofia socrática!

Nietzsche nos exorta para que "nos tornemos o que somos". Mas para sê-lo, há que "saber-se"...


Silvio MMax.


(continua...)



Nenhum comentário:

Postar um comentário